Quantos daqueles familiarizados apenas com o trabalho mais recente de José Cid imaginam que o popular artista português criou uma obra destas, tão influenciada pela ficção científica?
Confesso que não sou dos maiores especialistas em rock progressivo e afins, até porque é um género que só tenho vindo a explorar em anos recentes, mas, daquilo que conheço, não fica atrás de muito o que foi produzido lá fora nesta altura e neste género. A música tem momentos extremamente épicos e outros de delicada beleza. O trabalho de instrumentos é bastante competente e a voz de José Cid adapta-se surpreendentemente bem ao género. Apenas a letra parece destoar no conjunto, mas tal não se deverá principalmente à sua qualidade (ou falta de), mas ao facto de estar em português. Estamos demasiados habituados a ouvir músicas em inglês, onde até os versos mais parvos e foleiros soam "cool". Mas, a realidade, é que a letra de "10,000 Anos Depois Entre Vénus e Marte" não é particularmente pior do que o trabalho de muitas das bandas inglesas do género.
Um álbum que deve ser ouvido por todos os amantes de prog rock e afins, e por aqueles que procuram o pouco de ficção científica que existe na produção cultural portuguesa. Afinal, embora em Portugal esteja praticamente esquecido, este álbum está muito bem cotado no estrangeiro e não é raro vê-lo nos tops do género como um dos melhores de 1978.