domingo, 23 de março de 2014
"Frankenstein" Mary Shelley
Frankenstein dispensa apresentações. Um clássico da literatura de terror de que poucos não terão ouvido falar. Porém, como eu suspeitava, a ideia que popularmente se faz de Frankenstein deve mais aos filmes da Universal do que ao livro, sendo, neste aspecto, similar àquele outro clássico da literatura de terror, Drácula.
O livro é bastante diferente da maior parte das adaptações cinematográficas (talvez sendo a de Kenneth Branagh a que fica mais próxima). Enquanto os filmes geralmente de forma a focar os efeitos especiais e a caracterização, se centram na "ciência" e no aspecto do monstro, o livro não. Como bom exemplo disso temos a cena em que o monstro é animado, um dos pontos fulcrais de todos filmes, mas que aqui passa tão depressa e com tão pouca pompa que mal damos por ela.
O livro centra-se mais nos pensamentos das personagens, no entusiasmo e posteriores remorsos de Vítor Frankenstein e no conflito interno quanto às responsabilidades que tem pelo acto da sua criação; na dor do monstro que, como uma criança abandonada, vai aprendendo a perceber o mundo e depois se vê rejeitado por este devido ao seu aspecto e como isso o torna amargo e vingativo; a necessidade de Walton de encontrar um amigo que partilhe os seus sentimentos e como o encontra em Vítor, para depois o perder. E é também aqui que encontrei o elemento de terror no livro, não no aspecto horrível do monstro ou da sua existência contra-natura, mas sim no sofrimento das personagens, na capacidade que a sociedade tem de criar monstros e no preço que há a pagar por isso.
É um livro que devia ser lido por todos, não só os fãs do género, pois todos podem aprender algo com ele, não só com a sua mensagem central, como nas muitas outras que por ele estão espalhadas e até nas inúmeras referências a obras clássicas. Sem dúvida, uma leitura obrigatória.
Opinião sobre a "Antologia Fénix de Ficção Científica e Fantasia, Volume I"
No blog intergalacticrobot podem encontrar uma opinião à "Antologia Fénix de Ficção Científica e Fantasia, Volume I" onde se inclui o meu conto "Uma Demanda Literária".
sábado, 15 de fevereiro de 2014
Batalha do Pacífico (2013)
"Um grupo armado com robôs gigantes enfrenta monstros alienígenas saídos de um portal no fundo do Pacífico" é, basicamente, a premissa deste filme. Pode não parecer muito original e, sejamos honestos não o é. Porém, não é por isso que deixa de ser um dos filmes que mais me entusiasmou nos últimos tempos.
A história em si não é particularmente interessante, segue a estrutura geral comum à maior parte dos filmes de acção. Mas é a construção do universo, a sensação de que existe um mundo muito além do que nos é mostrado e uma história passada rica o que verdadeiramente nos conquista neste filme. Já há muito que um filme não me puxava tanto para o interior do seu universo ficcional. Tivesse eu mais tempo, mergulharia de bom grado no (pouco) material de universo estendido que existe.
As personagens estão bem construídas e são bastante distintas, com personalidades bem vincadas, o que vai ao encontro aos filmes e, principalmente, das séries de animação em que se inspira
E não se pode falar neste filme sem falar nos efeitos especiais e nas cenas de acção, capaz de transformar qualquer um que tenha crescido com, digamos, "Saber Rider", "Power Rangers" ou "Voltron" outra vez numa criança colada à televisão à espera que o seu robô favorito execute o seu "signature move".
Não sendo brilhante nem indispensável, "Batalha do Pacífico" é um dos filmes mais divertidos que vi em 2013 e fará as delícias de qualquer um que tenha crescido com as séries animadas de robôs gigantes ou com "Tokusatsu ".
domingo, 26 de janeiro de 2014
A Escrita e o Software Livre - Ferramentas "Open Source" para Escritores
Como utilizador quase exclusivo de software "Open Source", já tive a oportunidade de experimentar vários programas livres que serão úteis para escritores. Aqui ficam alguns:
LibreOffice - Um processador de texto é uma ferramenta essencial para um escritor, nem que seja só para ajudar a formatar o texto final. O Libreoffice é, actualmente, o processador de texto "Open Source" com mais funcionalidades. Embora não traga algumas das funcionalidades mais avançadas do MS Office, será mais do que suficiente para as necessidades de um escritor de ficção. O suporte para documentos .doc e .docx não está ainda a 100%, mas um escritor de ficção geralmente não precisa de formatação demasiado complexa, por isso não deverão ter qualquer problema. Se o usarem, aconselho-vos veementemente a ler o manual (se bem que o mesmo se aplica independentemente do processador de texto que usem). Coisas como os estilos, os modelos, o texto automático ou o "auto-complete" podem ajudar-vos a aumentar a vossa produtividade se as souberem usar. Se precisarem, podem encontrar correctores ortográficos para português europeu (pré e pós acordo ortográfico) no projecto Natura.
CoGrOO - Um corrector gramatical do Openoffice/Libreoffice para português brasileiro que pode, através de um truque não muito elegante, funcionar para português europeu. Como qualquer corrector gramatical, não é perfeito, mas pode ajudar em alguns casos pontuais.
Sonar - Um programa que vos ajuda a organizar os textos enviados para projectos/editoras. Com ele, nunca se irão se esquecer quando e para onde enviaram o vosso material.
Scribus - Um software de DTP que vos pode ajudar a preparar uma fanzine ou um romance auto-publicado. Não estará ao nível do InDesign, mas recomendo que dêem uma vista de olhos.
Celtx - Um programa profissional desenhado para a ajudar a escrever guiões, mas que também tem funcionalidades que podem ser úteis para contistas e novelistas. Não se deixem enganar pelo free trial que aparece na página oficial. Este só se aplica às funcionalidades online, o programa desktop é de uso livre.
PyRoom - Um processador de texto para aqueles que odeiam distracções. Aqui não há menus nem uma miríade de funcionalidades a implorar por atenção, são só vocês e o texto.
Os programas de que falo acima são apenas alguns exemplos de software "Open Source" útil para escritores. Mesmo fora das categorias mencionadas, existem muitos outros, como software de notas, "mind mapping" ou de gestão de pesquisa.
Se costumam usar algum que não foi mencionado, não hesitem em deixar a dica nos comentários.
sábado, 28 de dezembro de 2013
Continuum - Segunda Época (2013)
Continuum é uma série de ficção científica canadiana filmada e passada quase exclusivamente em Vancouver. A uma primeira época relativamente banal, onde apenas se teve um pequeno vislumbre da moralidade cinzenta da série, seguiu-se uma segunda época que não só me pareceu largamente superior, como é diferentes da maior parte da oferta televisiva do género.
Não esperem ter aqui espectaculares cenas cheias de efeitos especiais (se bem que tem os seus momentos). Por outro lado, também não se trata de FC Hard, pois os desvios da ciência consensual são mais do que muitos. O forte da série está mesmo nas personagens e na relação entre elas. As "facções" são mais do que muitas e encontram-se em constante mutação. Juntam-se, separam, aparecem e desaparecem, muitas vezes no decorrer de poucos episódios. As personagens, por seu lado, têm todas os seus próprios objectivos e interesses, que nem sempre coincidem com os da "facção" a que pertencem. E mudam e crescem bastante no decorrer da história. Não existe aqui um "status quo" ao qual regressar no fim de cada episódio.
Embora não seja das mais badaladas série de FC e F do momento, recomendo que invistam algum tempo a ver um ou dois episódios, de preferência da segunda época. Quem sabe se não tornam fãs como eu.
terça-feira, 24 de dezembro de 2013
Feliz Natal
A Canção Errante de Natal
por Joel Puga
Com o som de flautas, a canção abriu os olhos. Estava num parque,
rodeada de crianças a brincar e pinheiros cobertos com luzes multicoloridas.
Conforme as flautas construíam um crescendo, ela elevou-se acima da
copa das árvores. Durante uns segundos de silêncio, ali ficou, parada,
observando a cidade. Depois, iniciou-se uma batida ritmada, e a canção voou
avenida abaixo. Havia pessoas por todo o lado, admirando as luzes nos arcos e
nas fachadas dos edifícios, e, sempre que se cruzavam, diziam “Feliz Natal”.
Uma voz começou a cantar, acompanhando a batida, e a canção entrou num
apartamento. Passou pelo pinheirinho, ornamentado com bolas, faixas e estrelas,
e pelo pai, que preparava e decorava a mesa, até que chegou à cozinha, onde se
sentia um cheiro a mel e a canela, e a mãe, ajudada por um rapaz e uma
rapariga, preparava varias iguarias.
Mal saiu do apartamento, a
canção sentiu um forte impulso de ir para norte. Acima das nuvens, anjos
contavam o pré-refrão, enquanto ela voava à velocidade do som.
Chegou ao pólo-norte, avistou a enorme fábrica do Pai Natal, e o refrão
começou. Num gigantesco hangar, uma legião de diminutos elfos carregava com
prendas centenas de trenós e alimentava as respectivas renas. Não muito longe,
num anfiteatro, o Pai Natal original instruía os seus inúmeros clones e
atribuía a cada um uma pequena parte da Terra. A canção até passou pela fenda
que ligava o nosso mundo ao da imaginação, por onde, durante todo o ano,
passavam os robôs gigantes, os dinossauros, os póneis cor-de-rosa e tudo o mais
que os elfos usavam como modelo para os brinquedos que fabricavam.
O refrão terminou, e a voz começou a cantar um novo verso. A canção
voltou ao sul, à cidade, onde a noite já havia caído. Pessoas sozinhas, casais,
famílias inteiras andavam nas ruas, dirigindo-se às casas de familiares ou
amigos. A canção viu-os ser recebidos com abraços e beijos, aos quais eles
retribuíam com garrafas de vinho e travessas cheias de rabanadas, filhoses e
sonhos.
No início de um novo pré-refrão, a canção entrou numa das casas. Viu
adultos a falarem à volta da mesa, enquanto crianças brincavam debaixo dela.
Alguém chamou da cozinha e alguns dos adultos deixaram a sala, voltando pouco
depois com travessas cheias de bacalhau, polvo e peru. Todos se sentaram à
mesa. Uma das mães acendeu as velas. E o refrão começou.
Durante horas, ficaram ali sentados, a comer, a conversar, a cantar
músicas de Natal. No fim da refeição, ficaram em silêncio a ver um filme
familiar. Até que chegou a hora das crianças irem para a cama. Os visitantes partiram,
voltando para os respectivos lares, enquanto a mãe da casa foi deitar os
filhos. Estes, a princípio, não conseguiam dormir, entusiasmados com as prendas
que os esperariam de manhã no sapatinho, mas o cansaço acabou por os vencer. O
refrão deu lugar ao solo. Durante a noite, todos os instrumentos conhecidos do
homem tiveram o seu momento de ribalta.
A canção desceu à sala, chegando mesmo a tempo de ver um dos clones do
Pai Natal teletransportar-se do telhado. Do saco, tirou duas prendas, pousando
uma ao lado de cada um dos sapatinhos em cima da lareira. Depois, voltou a
desaparecer.
Ao raiar do dia, as crianças acordaram, dando início ao refrão,
correram escadas abaixo e abriram as prendas. Durante toda a manhã, brincaram
com os novos brinquedos, enquanto o refrão se repetia uma e outra vez. Depois,
chegou a hora do almoço. Com um talher numa mão e o novo brinquedo na outra,
comeram as sobras da noite anterior, enquanto os pais se deliciavam com um prato
de roupa velha.
O almoço prolongou-se até meio da tarde, quando os pais começaram a
limpar a mesa. Foi então que todos se
aperceberam de que o Natal estava a chegar ao fim.
A última repetição do refrão deu lugar ao som de flautas. Exausta, a
canção deixou a casa e flutuou de volta ao parque. Deitou-se debaixo dos
pinheiros e, aos poucos, fechou os olhos, ansiosa por acordar de novo no
próximo Natal.
FIM
sábado, 21 de dezembro de 2013
O Hobbit: A Desolação de Smaug (2013)
Novamente, a minha única visita ao cinema do ano foi para ver mais um dos filmes da trilogia "O Hobbit". Não dou o tempo nem o dinheiro por perdido, se bem que devo confessar que preferi o filme anterior (cuja versão estendida vi pouco antes da minha ida ao cinema).
Visualmente, o filme é irrepreensível e penso que nesse aspecto supera até a trilogia de "O Senhor dos Anéis". Das fantásticas paisagens ao colossal Reino Debaixo da Montanha, passando pela cidade dos elfos e Esgaroth, tudo forma um cenário épico além de tudo o que me lembro de ver em cinema. E o mesmo pode ser dito da banda sonora e dos efeitos especiais. E, como na trilogia de "O Senhor dos Anéis", a atenção prestada aos detalhes cria um mundo de tal forma realista que nos puxa eficazmente para dentro da história.
Porém, pelo menos para mim, o grande defeito estava no guião, em particular no excesso de cenas de luta. Estas estavam bem feitas, se bem que tinham alguns momentos um poucos exagerados, e possuíam um sentido de humor muito próprio, mas tomavam de tal forma conta da narrativa que esta mais parecia uma sequência de lutas interligadas do que uma história. Também não gostei particularmente do final. Embora não seja particularmente difícil de deduzir, mesmo para aqueles que não conhecem o livro, o que vai acontecer a seguir, gostava que este filme tivesse tido um melhor fecho, como o filme anterior.
Apesar dos elementos que não apreciei no filme, divertiu-me imenso. Que mais não seja, merece ser visto pela maneira como explora e expande a versão cinematográfica Terra Média. Se são fãs de fantasia épica, é um filme a não perder.
Subscrever:
Mensagens (Atom)